quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ilusão Solidão

Sós são aqueles que rezam a Deus,
Vivendo para Ele sem satisfação.
Esquecem o mundo pelos céus,
Ironizando a alma e o coração.

Sós são também os que vestem vermelho,
Convencidos da totalitária aparência
E, perdidos no centro do espelho,
Ficam cegos à sua transparência.

Mas mais sós são os que vivem de abraços
Daqueles que deles não têm carências.
Fixam-se numa família feita em pedaços,
Pensando que do sangue vêm os laços,
Quando estes vêm somente das vivências.

domingo, 26 de abril de 2009

O que os Deuses nos têm não é mais do que amizade

Sei dum conceito genial,
Uma nova forma de amar.
De mão dada a um novo ideal,
Numa novidade ancestral
Tão difícil de imaginar...

Veio em forma de chuva
Como dom de sua natureza,
Que nos torna se somos seca uva:
Em passas de igual riqueza.

Choveu bem e por todo lado
Nem altivos céus exceptuaram
A esta chuva que é como o fado:
Calha a todos, até os que já se molharam

Choveu para nós que somos pó
Choveu para nós e fez-nos vida
Trouxe-nos a raiva, a adoração e o dó
Lembrando-nos duma sede há muito esquecida

É água aquilo que cai do céu,
Ou é somente tudo o que é divino?
É o que a vida nos prometeu
Em grandeza se vivemos com tino

É a dádiva da vida valorosa
Forte elo de cega igualdade
Circunferência harmoniosa
Que numa palavra nega a prosa:
O conceito da amizade

sábado, 14 de março de 2009

Vazio Como Presença do Essencial

A vida é uma prisão!
Prende-nos tão grandemente,
Que nos tira a visão,
Tira-nos o olfacto e a audição,
Torna o tacto dormente
E, quando nada mais se sente,
Tira-nos toda a razão!

Queima-nos os sentidos
E leva-nos a dor de outrora,
Deixa-nos rendidos
Como que a saborear vitória;
Deixa-nos como corpos despidos,
De força e alma desprovidos,
Num fingimento de perda de memória...

E assim ficamos presos a um sorriso
Ausente de tudo, salvo coração;
Simples ausência do indeciso;
Ausência do pensar e da recordação;
Ausência de qualquer razão para siso,
Mas presença de tudo o que é preciso
Para atingir o auge da gratificação.

Porque viver não é recordar,
Nem aprender com o que há de ruim.
É esquecer e deixar perpetuar
A alma, na prisão que nos torna assim,
Presos por correntes de amar,
Em escravos pedintes a mendigar
Por mais amor, numa cede sem fim...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

À imagem de Sephiny

Perguntou-me "Sabes o que és?"
Na certeza que nem eu tenho que existo

E na resposta perguntei-lhe ao invés

"Saberás tu quem és,

Se te disser que sou o mefisto?"


Respondeu-me que era a divindade;

Respondeu-me...a minha consciência...

Pois essa beleza sem igualdade,

Contrastante à minha personalidade,

Recusou-se à minha exigência

E na sua angelical bondade,

Fechou-se em silenciosa paciência.


Aguardou o desconhecido do desconhecido,

Antagonia da mentira que fluía

Da boca do estranho embebecido

De tanto contraste convencido.

(Similares? Só na poesia...)


Mas na eternidade infinitesimal

Vislumbratória que nos separava,

Heis um voto que se quebrava

Para uma resposta genial,

Num tom de voz mais que magistral...

Deixei de ser quem esperava:


"Se ao mefisto rezas preces,

És errante no teu modo de vida,

Pois de nenhuma bondade careces,

Somente no azar das tuas benesses,

Que como teus olhos me deixam comovida.


E se enganada estivesse,

Numa ilusória fantasia,

Dizer-te-ia que sou quem o esquece

E a que o teu inferno aquece,

Pois nada tenho de virgem Maria.


Sou o coração que só em lágrimas se vê

Único e verdadeiro símbolo do sufixo "ade",

Negro e silencioso em que ninguém crê,

O efémero e o eterno em simbiose e igualdade."


A clareza era inexplicável;

Era nova e subentendida.

Senti que uma resposta tão inigualável

Merecia que da forma mais amável

Fosse com sinceridade respondida.


E eu então criei a imagem

Pensei bem e soube responder:

Tudo serei somente de passagem,

Pois sei que sou o que pretender.

Sou o fogo na aragem,

Que a rodeia sem arder;

Sou um sinal de uma viragem,

Para um futuro a acontecer;

Sou a mira em homenagem,

De todos os que me fizeram ver;

Sou o olho da grande viagem,

Que transmite tudo o que vi e aprendi;

Sou o último nome da mensagem

E não sou humano, sou ... c'est finit! (sou Sephiny)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Ainda assim...sorri!

Sorri nessa tua aparência,
Que é triste como a luz que esvaia.
Sorriso, doce como na sua demência,
Abafando toda a inocência:
Tão tua como da tua laia.

Vai-te daqui e vem-te de lá,
Mas que me venhas devagar!
Caminha sobre a calçada descalça:
Tão tua como nua,
Numa nudez que realça,
O mar de roupa que flutua
Em ti e te apazigua,
Numa paz interna que é falsa.

(Remorso!Remorso!
Sinto-o tanto no vazio...
É de lá que o oiço...
É de lá que sinto frio...
Vai e vem como baloiço,
Que me tortura,que é doentio)

Saberás o que és, o que quiseste e quiseste fazer?
Saberás certamente, mas não me vais dizer.
Segredo só o é quando é somente teu
E és tão pouco que sem pensar adivinho:
Na ausência das cinco letras de carinho,
Sei bem o que tu és... e o que tu és sou eu.