terça-feira, 26 de abril de 2011

A Canção do Delírio

É como um mundo que gira

E outro mundo que mira

Tudo num turbilhão


É uma página gasta

E uma maré que arrasta

O mar da emoção


É o sufoco incessante

Cansaço sufocante

Esse mar de gostar


É ser velho na mente

Dum jovem inocente

Que se deixa levar


Do verso que vemos

Sabemos o tacto

Sabemos que somos só nós


Perdidos na folha

Sabemos de facto

Poesia e a sua voz


Morro de sede e escrevo a minha morte

Encho o peito e sofro a minha sorte


Entro em mim como homem e larva

Entro na carne em decomposição

Rasgo a memória duma vida escrava

E escrevo uma nova canção

Que me leva p’ra longe do meu ser demente e que faz de mim gente


É como um par de mãos dadas

Duas vozes caladas

Sempre com atenção


E a terceira que fala

É a mente que cala

A mente na solidão


É um aviso que pega

E depois nada sossega

Essa poeira no ar


E de minúsculos pontos

Surgem sombras de monstros

Dentro do seu falar


Do verso que vemos

Sabemos o tacto

Sabemos que somos só nós


Perdidos na folha

Sabemos de facto

Poesia e a sua voz


Acendo a luz que me cega e vejo o nada

Olho p’ro mar de vazio e sinto a estrada


Corro p’ra meta d'interrogações

Corro e caio e voo em mim

Ignoro a guerra e as opiniões

Encontro a paz que há no fim

Que me revela a alma e me lê pouco a pouco e me diz que estou louco

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Contentamento

Tanto tempo perdido,
Tanto nada feito,

Tanto mal refeito,

Tanto tanto esquecido.


Sempre igual ao que conheço de mim:

Tenho o saber mas falta.me a vontade

Posso ter o querer mas falta-me a verdade...


A Esperança só morre no fim,

Ouvi dizer...

Réstia de esforço

Inconsciente e mental,

No entanto poderoso

De um querer quase imortal.


(O sentir nada é sem mim.
)

A Vergonha

Atrás dos mundos, atrás da dor

Tu trazes tudo, tu és amor

Atrás da sombra, és luz vital

Atrás do espelho, és luz igual

Atrás do sorriso que se quebra no vazio

Quebra-se o sizo também, na boca que mentiu


Tu e eu, um céu, um mar

E um momento, com tudo para dar

Os olhos tocam-se e tocamos Deus

E a dança segue o rumo dos céus

Ficamos parados como chuva no chão

Olhares vidrados, à espera dum gesto... em vão


Porque negamos a alma, julgamos que é calma a ansia que nos faz

E no momento divino, o correcto caminho, nunca define a paz

Quando paramos o corpo, matamos o sopro do vento que nos trás

E morremos também, num amor incapaz

domingo, 28 de novembro de 2010

Poeta Cobarde

(poema de 2008, encontrado num canto escuro do disco rígido)

Por alegórica luz do nascente,
Perde-se um coração por um olhar,
Que leva perdida, mas não inocente,
A coragem que torna demente
Aquele que escreve como que a mendigar...

Aquele que escreve para fugir,
E para se esconder na desculpa,
Mas que sempre, sem mentir,
Escreve o que tem vindo a repetir
Como fingimento de mensagem oculta.

E repete-a de olhos fechados
Para uma verdade envolta em vergonha.
Repete-a para os mais iluminados,
Pois insultos e maus olhados
Imagina na mente de com quem sonha.

Se ao menos fosse certeza
A ideia do que realmente se sente,
Com mais ou menos delicadeza,
Causar-se-ia (ou não)tristeza
Numa resposta minimamente coerente.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Chuva Fez-me Voltar

Hoje choveu...
Choveu neste mundo e no meu,
Choveu sangue de Deus,
Translúcido, como a mágoa de filhos seus

Hoje doeu...

Doeu-lhes o saco oco
E gritaram para o mundo mouco...
E depois, pouco a pouco,
Desistiram...Deus estava louco

(LIBERDADE!
Não há crença que me prenda o grito!
Sem Deus, todo eu sou infinito!
E posso voar porque esse chão se sumiu...
Mas no final, nada disto é bonito...
No final, vivemos todos para o vazio)

Hoje voltei a mim...

O que esse vazio me diz
É que voltei para me encontrar.
Sei que não o fiz porque quis...
Porque eu até era feliz,
Mas voltei porque me fizeram voltar

domingo, 1 de agosto de 2010

O Som das Palavras é o Grito

Grito não te escondas
O mundo lê-se nas canções
És a chave da mente
Da alma dos sonhos e das ilusões

És o corvo poeta
Mensageiro transcendente
Entre a vida e a morte
Entre os mundos de tanta gente




Não vás procurar quem és
Não vais encontrar ninguém
Não tens mãos nem tens pés
Tens as asas e o desdém
Pela morte que carregas
Pelos mundos que enxergas
Pelo sopro que sufoca
Nessa tua alma morta
Não te negas se voares
Tu tens tudo para dares
A palavra às pessoas
Mesmo as que não perdoas

Porque o grito é a vida
Das palavras de saber
É a morte da vergonha
E o corpo a transparecer
É o dar amor ao vento
Quando o vento está parado
E quando o vento voa
Temos um mundo mudado




Eu não fui aos céus de lá
Porque o medo me prendeu
Respondi palavras tortas
A uma terra que não mereceu

Respondi-as num sussurro
Porque o grito me fugiu
Esse grito que és tu
Esse grito que partiu

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Quadra do Desenquadramento

Não vai haver o teu novo tudo

Vais ser tu num pensamento mudo

E quando esse mundo perder o sentido

Vais ser tu e o teu mundo perdido

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Alma, Mente, Nada

A busca da sabedoria tira-nos a noção de saber
A busca da imortalidade tira-nos tempo de viver
E sem tempo para nós, que temos nós para oferecer ao mundo?
Perdemos contra a natureza humana e perdemos a nossa humanidade
Perdemo-nos de nós próprios no nosso pensamento
Mudamos com o tempo que passa e não vemos
Mudamos e muda o que procuramos, mas a procura continua a mesma
Às tantas não sabemos o que procurar e pensamos que é o amor
Entregamo-nos a ele como a nós próprios e acabamos por perde-lo
(porque no roubaram? nós é que o damos a estranhos...)
Tiram-nos a vontade de procura e ficamos sem a única coisa que nos define
Perdemo-nos no vazio de tudo o que não somos...

Absorvemos o mundo

Renascemos
Vivemos para o mundo e tentamos dar-lhe um sentido
Seguimo-lo, acabamos por ser seguidos por ele
Apercebemo-nos que não há caminho a seguir, mas há um por traçar
(deixamos de acreditar no destino? não, vemo-lo apenas doutra forma)
Encontramo-nos
Relembramos o passado e aprendemos com ele
Criamos o nosso mundo.
Procuramos o amor verdadeiro
Entregamos quem somos à única certeza da incerteza da nossa procura
Criamos carácter
Ganhamos alma
Recuperamos a nossa humanidade
E no final, é o verdadeiro amor que nos encontra e perdemos tudo isso...
Nada disso importa...
Somos Deuses

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ilusões Existenciais sobre Corações Intelectuais

Presente do tormento
A alma sabe-me a morte
Mas este é o último tempo
Réstia podre de sorte

Cegas artes cénicas
E suicídio colectivo
Das almas esquizofrénicas
Que me têm cativo

São as ilusões existenciais
Que matam corações intelectuais

E o mundo mundano
É negado legado do céu
Sufoca no ar insano
Atrás do muro de véu

Temo o sonho que aí vem
Que é bom e é tormento
Que o passado divino tem
Que é tudo, mas é momento

São as ilusões existenciais
Que matam corações intelectuais

sexta-feira, 9 de abril de 2010

"Passámos A Ter Rijos Íleos Com Isto Assim"

Sopro, vulto
Sombra, névoa
Leve tom de luto
Vindo de Évora

Deste luz
Num tom baço
Deste-me incompleto
O teu regaço

(Dá-me a tua alma
Parte do que és
Eu dou-te aquele espelho
Do que não vês

E se escrever no sonho
Dou a minha vida aquém
Da vida em que me fizeste
Ser alguém)

Grita o beijo
Num suspiro
Coloco-te a alma nua
E a alma retiro

E os porquês
Do não dois
No final não existem
Existem depois

(Dei-te a minha alma
Parte do que sou
Enquanto me quebraste o espelho
E o tempo parou

Eu morri no sonho
Dei-te a minha vida aquém
Da vida que sonhei que seria
Mas na vida vivida tu vives mas não és ninguém)

Perdi-me com o teu olhar (morri)

Perdi-me com o teu olhar

Morri...

Morri para o mundo num grito

No ressonar do brilho da paixão dos teus olhos

Morri por dentro num sorriso efémero

Eterno das palavras dum beijo

Morri para o vazio da vida e para o negro do mundo

Morri da morte do meu passado

Vivi!


Os meus olhos fecharam-se para as trevas do redondo finito

E os teus lábios sugaram-me a alma para o paraíso do teu ser

Dispensei-me das pernas, dos braços e das asas

Despi-me da minha mente, do meu mundo e do meu viver

A minha alma era tua

A minha alma era a tua.


(O amor é tão bonito...

É sorrir para o nada

E é tudo o que o nada não tem

É ser feliz)




Tropecei...


A vida empurou-me para um abismo de raiva

Quando pensei conseguir erger-me para o perdão

Foi o rancor quem me estendeu a mão

E enterrou-me no vazio


(O amor é tão feio

É odio quando não é nada

E acaba por ser tudo

É perdoar o ego para um mundo perfeito

É ter a felicidade como contraste do real que nós somos...)


O teu olhar atravessou-me como a luz e o ar se abraçam

Tocou no infinito e perdeu-se

Perdeu-se de mim

E quando o senti

Perdi-me com o teu olhar

Morri.

Sangue Quente

Com o sangue quente

A mente promete perecer

Tenho sangue quente

Nesta demente forma de viver


Lacera-me a lente

Que me cega que me tem

Cego é quem não sente

Na cegueira de não ser ninguém


Tom vermelho tom carnal

De desejo e dor esquecida

Sangue quente divinal

Simbolo da efémera vida


Despe-me do mundo

Despe-te de mim

E num desejo moribundo

Renascemos iguais no fim


O toque é leveza

E o beijo indiferente

Mas o sentimento é certeza

Na pureza do sangue quente

E um grito de dor!

Passa a grito de prazer!

Morder, rasgar o pudor!

E sangue quente a verter!