É como um mundo que gira
E outro mundo que mira
Tudo num turbilhão
É uma página gasta
E uma maré que arrasta
O mar da emoção
É o sufoco incessante
Cansaço sufocante
Esse mar de gostar
É ser velho na mente
Dum jovem inocente
Que se deixa levar
Do verso que vemos
Sabemos o tacto
Sabemos que somos só nós
Perdidos na folha
Sabemos de facto
Poesia e a sua voz
Morro de sede e escrevo a minha morte
Encho o peito e sofro a minha sorte
Entro em mim como homem e larva
Entro na carne em decomposição
Rasgo a memória duma vida escrava
E escrevo uma nova canção
Que me leva p’ra longe do meu ser demente e que faz de mim gente
É como um par de mãos dadas
Duas vozes caladas
Sempre com atenção
E a terceira que fala
É a mente que cala
A mente na solidão
É um aviso que pega
E depois nada sossega
Essa poeira no ar
E de minúsculos pontos
Surgem sombras de monstros
Dentro do seu falar
Do verso que vemos
Sabemos o tacto
Sabemos que somos só nós
Perdidos na folha
Sabemos de facto
Poesia e a sua voz
Acendo a luz que me cega e vejo o nada
Olho p’ro mar de vazio e sinto a estrada
Corro p’ra meta d'interrogações
Corro e caio e voo em mim
Ignoro a guerra e as opiniões
Encontro a paz que há no fim
Que me revela a alma e me lê pouco a pouco e me diz que estou louco