terça-feira, 26 de abril de 2011

A Canção do Delírio

É como um mundo que gira

E outro mundo que mira

Tudo num turbilhão


É uma página gasta

E uma maré que arrasta

O mar da emoção


É o sufoco incessante

Cansaço sufocante

Esse mar de gostar


É ser velho na mente

Dum jovem inocente

Que se deixa levar


Do verso que vemos

Sabemos o tacto

Sabemos que somos só nós


Perdidos na folha

Sabemos de facto

Poesia e a sua voz


Morro de sede e escrevo a minha morte

Encho o peito e sofro a minha sorte


Entro em mim como homem e larva

Entro na carne em decomposição

Rasgo a memória duma vida escrava

E escrevo uma nova canção

Que me leva p’ra longe do meu ser demente e que faz de mim gente


É como um par de mãos dadas

Duas vozes caladas

Sempre com atenção


E a terceira que fala

É a mente que cala

A mente na solidão


É um aviso que pega

E depois nada sossega

Essa poeira no ar


E de minúsculos pontos

Surgem sombras de monstros

Dentro do seu falar


Do verso que vemos

Sabemos o tacto

Sabemos que somos só nós


Perdidos na folha

Sabemos de facto

Poesia e a sua voz


Acendo a luz que me cega e vejo o nada

Olho p’ro mar de vazio e sinto a estrada


Corro p’ra meta d'interrogações

Corro e caio e voo em mim

Ignoro a guerra e as opiniões

Encontro a paz que há no fim

Que me revela a alma e me lê pouco a pouco e me diz que estou louco

Um comentário:

SusanaPacheco disse...

Gostei imenso do poema, reflectiu esses dois mundos que somos, mas isto de uma forma muito simplista claro, porque somos muitos mais do que isso.. Mas há sempre um mundo que "gira" e outro que "mira".
O mundo dos outros e o nosso mundo interior.
Gostei da forma com que descreves o que é gostar, esse "cansaço", esse "sufoco". Mas o mais importante a reter é a metamorfose, a que passamos por amar alguém, quer queiramos quer não nos transforma, nos mata e nos faz renascer num ser novo e, se não melhor, pelo menos mais forte :)
Já tinha saudades de ler os teus poemas aqui :P continua!***